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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Desmatamento na Amazônia é principal causa de incêndios

Levantamento mostra que dez cidades amazônicas com maior desmate registraram mais focos de incêndio


Desmatamento na Amazônia aumento 39% no último ano - Foto: Agência/Brasil

Os dez municípios amazônicos que mais registraram focos de incêndios foram também os que tiveram maiores taxas de desmatamento. É o que mostra um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazônia (Ipam). Em nota técnica, a ONG apontou uma forte correlação entre o aumento das queimadas com a alta no desmatamento da Amazônia. 
Apesar de este ano também estar com uma estiagem mais prolongada – o que chegou a ser sugerido como uma possível causa para o aumento dos focos de fogo –, a seca é menos intensa do que a de 2016, por exemplo. E há mais umidade na Amazônia hoje do que havia nos últimos três anos. “Isso significa que o alarmante aumento da ocorrência de incêndios que devastam a maior floresta tropical do mundo indica que o desmatamento possa ser um fator de impulsionamento às chamas”, disseram os pesquisadores da ONG em nota técnica.
Historicamente, as queimadas na região estão ligadas ao avanço do desflorestamento, combinado a períodos de seca intensa, diz o pesquisador do Ipam, Paulo Moutinho. “O que é estranho neste ano de 2019 é que não há uma seca tão severa como nos anos anteriores e há um aumento substancial dos focos de incêndio. As relações que a gente buscou entre desmatamento e focos de incêndio são muito fortes este ano, o que indica que a seca tem alguma influência, mas não é o fator preponderante”, afirma.
Alertas de desmate feitos recentemente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicaram uma alta de 49,45% na devastação entre agosto do ano passado e julho deste ano, na comparação com os 12 meses anteriores. Ao mesmo tempo, o número de focos de incêndio, para a maioria dos Estados da região Norte, já é o maior dos últimos quatro anos. 

A superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Dalce Ricas, explica que o fogo é normalmente usado para ‘limpar o terreno’, após os cortes de árvores. “Apesar de errado, a lei autoriza o uso de fogo para áreas de agricultura, desde que aja vigilância”, diz. 
“Geralmente, o primeiro interesse econômico é pela madeira. Então, madeireiros chegam na floresta e tiram o que podem, derrubam as melhores árvores com maior valor de mercado. Passados alguns dias, quando as folhas e galhos menores já estão secos, vem o fogo. Depois, a terceira etapa é quando chegam o capim e o boi. Aí completa o ciclo de destruição. Depois madeireiros e grileiros avançam mais e mais para expandir o processo de destruição”, explica o processo. 
Saúde sofre o impacto
As relações entre o aumento do desmatamento e a redução dos ciclos de chuvas, provocando consequentemente prejuízos ao agronegócio brasileiro, são apenas alguns dos impactos alertados por especialistas. “Pelo lado ambiental, todos estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) mostram que a Amazônia será transformada numa Savana. Por outro lado, as queimadas aumentam o índice de doenças respiratórias da região. A fuligem afeta diretamente a saúde humana e animal”, alerta a superintendente da Amda, Dalce Ricas.
Para frear essa devastação, o Ipam recomenda que é preciso intensificar o combate à derrubada ilegal da floresta e apoiar agricultores para que deixem de usar o fogo no preparo da terra. Em nota técnica, o órgão sugere que “é urgente retomar as campanhas de prevenção de queimadas, combate aos incêndios florestais e o uso de técnicas controladas do fogo”. Reduzir o uso do fogo resulta em menos gasto com saúde ou reposição de perdas agroflorestais, aponta o Ipam.

Fonte: O Tempo

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