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segunda-feira, 31 de março de 2014

Mulheres Trabalhadoras repudiam violência contra a mulher

Após divulgação de pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), na última quinta-feira (27), na qual apontou que65,1% dos entrevistados culpam mulher por abuso sexual, o Fórum Nacional das Mulheres Trabalhadoras das Centrais Sindicais (FNMT) emitiu uma nota de répudio à violência contra a mulher.

Mulheres trabalhadoras repudiam resultado de pesquisa
Leia abaixo a íntegra do documento
 

O Fórum Nacional das Mulheres Trabalhadoras das Centrais Sindicais manifestam sua indignação a respeito da pesquisa publicada pelo IPEA, que aponta que 42,7% da população (homens e mulheres) concordam que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas" e 35,3% concordam totalmente que "se as mulheres soubessem como se comportar haveria menos estupros”.

Qualquer pesquisa de opinião não pode pressupor em seu enunciado juízo de valor, por exemplo, na questão admitir que a mulher mereça ser atacada conforme a roupa que veste, é intensificar a discriminação e o preconceito consequentemente, estimular práticas criminosas, como assédio sexual dentre outras.

Infelizmente a cultura patriarcal e machista imputa à mulher a culpa pela violência sofrida. Até quando continuaremos a alimentar essa mentalidade atrasada? Cadê as políticas públicas de estado que, através de seus instrumentos como a educação, não desenvolvem uma política consequente para formar novas gerações que respeitem os direitos humanos das mulheres? Por que nossa mídia através de seus instrumentos não desenvolve campanhas que garantam o direito da mulher? A violência física, moral, sexual e verbal não pode continuar sem rigorosa punição.

Pela imediata implantação da Lei Maria da Penha.

O nosso mais veemente repúdio.

Maria Auxiliadora dos Santos
Secretaria de Políticas para as Mulheres da Força Sindical 

Ivania Pereira 
Secretaria Nacional da Mulher Trabalhadora da CTB 

Eleuza de Cássia Bufelli Macari
Coletivo de Gênero da UGT 

Sônia Maria Zerino da Silva
Diretora Para Assuntos da Mulher e da Juventude da NCST

Fonte: CTB

quinta-feira, 27 de março de 2014

Jornada de Luta da Juventude: Estudantes fazem passeata em Betim exigindo o meio passe e o crédito educativo

As ruas do centro de Betim amanheceram ocupadas por estudantes de várias escolas e regiões da cidade. A Jornada de Lutas da Juventude, evento que já é parte do calendário de manifestações do movimento estudantil, reuniu milhares de estudantes nesta  5ª feira, dia 27.
O ato foi organizado pelas entidades que representa os estudantes, UMES BETIM, UBES, UCMG, UNE, UEE MG, além dos DCEs e grêmios. Com gritos e palavras de ordem, os estudantes reivindicaram a regulamentação do Crédito Educativo, 10% do PIB para educação, regulamentação da lei que criou o meio passe, além de investimentos e melhorias nas escolas municipais e estaduais.

O Presidente da Umes Betim, Fernando Carlos, ressaltou a importância da mobilização estudantil na busca pela ampliação dos direitos da juventude. “Hoje a sala de aula é as ruas, e são os estudantes que estão dando uma verdadeira lição de cidadania. Exigimos à atenção do poder público, a juventude tem que ser levada a sério e atendida as suas reivindicações”, afirma Fernando.

O diretor da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), Francisco Faria, destacou que a jornada de lutas, que tradicionalmente acontece no mês de março, é realizada em várias cidades do Brasil. “De norte ao sul do Brasil, os estudantes marcham na defesa de investimento na educação e nas construção de politicas publicas para a juventude, e Betim através do movimento estudantil, mais uma vez dá uma demonstração de força e combatividade”, enaltece  Francisco.
Depois de percorrer várias ruas e avenidas centrais da cidade, os estudantes fizeram um ato em frente à Câmara Municipal, onde uma comissão representando as entidades foi recebida pelo Presidente do Legislativo Municipal, Vereador Marcão do Universal, além da Secretaria de Educação, Superintendente Municipal de Juventude e do Vereador Tiago Santana.
Na reunião os estudantes entregaram uma carta, em que o conteúdo apontava as reivindicações do movimento e cobrava respostas imediatas. Ao final foi estabelecido um calendário de reuniões entre prefeitura, câmara e entidade estudantis dando prosseguimento às negociações.


De Betim,
Flavio Saddam e Gabriel Sousa

quarta-feira, 26 de março de 2014

Câmara dos Deputados aprova Marco Civil da Internet

Após cinco meses de polêmica e intensos debates, a Câmara aprovou na noite de terça-feira (25) o projeto do Marco Civil da Internet (PL 2.126/11). Os deputados aprovaram o texto em votação simbólica. Desde 28 de outubro de 2013, o projeto passou a trancar a pauta da Câmara.
O projeto define os direitos e deveres de usuários e provedores de serviços de conexão e aplicativos na internet. A aprovação abre caminho para que os internautas brasileiros possam ter garantido o direito à privacidade e à não discriminação do tráfego de conteúdos. O texto agora segue para o Senado e, caso seja aprovado lá também, irá para sanção presidencial.
“Hoje em dia precisamos de lei para proteger a essência da internet que está ameaçada por praticas de mercado e, até mesmo, de governo. Assim, precisamos garantir regras para que a liberdade na rede seja garantida", disse o relator do projeto deputado Alessandro Molon (PT-RJ).

Entre os principais pontos da proposta estão: a garantia do direito à privacidade dos usuários, especialmente à inviolabilidade e ao sigilo de suas comunicações pela internet. Atualmente, as informações são usadas livremente por empresas que vendem esses dados para o setores de marketing ou vendas.

Os provedores não poderão fornecer a terceiros as informações dos usuários, a não ser que haja consentimento do internauta; os registros constantes de sites de buscas, os e-mails, entre outros dados, só poderão ser armazenados por seis meses. O projeto também define os casos em que a Justiça pode requisitar registros de acesso à rede e a comunicações de usuários.

De acordo com o texto, as empresas não vão poder limitar o acesso a certos conteúdos ou cobrar preços diferenciados para cada tipo de serviço prestado.

Antes da votação, o governo recuou e aceitou alterar alguns pontos considerados polêmicos por parlamentares da oposição e da base aliada. O principal deles é o princípio da neutralidade de rede que assegura a não discriminação do tráfego de conteúdos. Após negociação os deputados acordaram que a regulamentação deste trecho da lei caberá a um decreto da Presidência da República, depois de consulta à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI)

Também caiu a obrigatoriedade das empresas provedoras de conexão e aplicações de internet
manterem em território nacional estrutura de armazenamento de dados, os chamados data centers.
A obrigatoriedade havia sido incluída após as denúncias de espionagem do governo brasileiro, por parte dos Estados Unidos, revelados pelo ex-consultor que prestava serviços à Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) norte-americana, Edward Snowden. Como forma de punição para a violação das comunicações, ficou assegurado no texto que deverá ser “obrigatoriamente respeitada a legislação brasileira”.

Outro ponto do projeto é o que isenta os provedores de conexão à internet de serem responsabilizados civilmente por danos decorrentes de conteúdos gerados por terceiros. Isso só ocorrerá se, após ordem judicial específica, o provedor não tomar as providências para retirar o conteúdo da rede.

Nesses casos, o projeto determina que a retirada de material com cenas de sexo ou nudez deve ocorrer a partir de apresentação pela pessoa vítima da violação de intimidade e não pelo ofendido, o que poderia dar interpretação de que qualquer pessoa ofendida poderia pedir a retirada do material. Agora, a retirada deverá ser feita a partir de ordem judicial.

Além disso, o relator também incluiu um artigo para prever que os pais possam escolher e usar programas de controle na internet para evitar o acesso de crianças e adolescentes a conteúdo inadequado para a idade. “O usuário terá a opção de livre escolha da utilização de controle parental em seu terminal e caberá ao Poder Público, em conjunto com os provedores de conexão, a definição de aplicativos para realizar este controle e a definição de boas práticas de inclusão digital de crianças e adolescentes”, discursou Molon.

Após diversas negociações, o governo conseguiu com que os partidos contrários ao Marco Civil mudassem de ideia. O PPS foi o único partido que votou contra o projeto. O PMDB, que era contra a proposta, mudou de opinião e defendeu a aprovação. 

A aprovação do Marco Civil da Internet foi vista como uma vitória pelo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). "Eu acho que é uma vitória porque nós vivemos momentos variados, o mínimo que eu posso dizer sobre esta matéria é que houve tensões. A paciência e determinação em buscar através de um diálogo, independentemente de quem quer que seja, isso é uma grande vitória", disse Chinaglia.

Com Agência Brasil

segunda-feira, 17 de março de 2014

Betim: Trabalhadores fazem paralisação reivindicando aumento salarial

Trabalhadores da limpeza urbana em manifestação.
 Foto: Facebook
Além dos servidores da educação, que já realizaram uma paralisação nos últimos dias, agora é a vez dos trabalhadores do setor de limpeza urbana da Cidade de Betim, que cruzaram os braços nesta manhã de de segunda feira (dia 17), na pauta reivindicam além de melhorias nas condições de trabalho, exigem reajuste salarial.

Centenas de funcionários realizaram um ato na portaria da Empresa Via Solo e logo depois se dirigiram até a prefeitura, onde aguardam serem recebido pelo Prefeito Carlaile Pedrosa.

Agente de endemias já fecharam BR 381

Outra categoria que cobram melhoras na folha salarial, são os agentes de endemias. Há vários dias em greve, os trabalhadores e trabalhadoras realizam toda semana, manifestações na Câmara Municipal, solicitando apoio dos parlamentares na busca por dialogo a prefeitura.

Outra ação do movimento, foi o fechamento da BR 381 na semana passada. Para os líderes da categoria, tais ações visam chamar a atenção da população e dos órgãos públicos,  diante dos problemas vivido pelos trabalhadores.

Parlamento da Crimeia oficializa pedido de união à Rússia

Mais de 97% dos eleitores no referendo da Crimeia responderam "sim" à união da república autônoma à Rússia.

Mais de 97% dos eleitores no referendo da Crimeia responderam
 "sim" à união da república autônoma à Rússia.
O Parlamento da Crimeia aprovou nesta segunda-feira (17) uma resolução para declarar-se independente da Ucrânia e pediu oficialmente a união da península à Rússia. A resolução foi adotada em sessão do Parlamento, na qual ficou estabelecido que a Crimeia passará a usar o fuso horário de Moscou, e não o de Kiev, na Ucrânia, que era o adotado.

A República da Crimeia pediu à Organização das Nações Unida (ONU) e a todas as nações do mundo para reconhecerem o Estado independente, criado pelos povos da Crimeia, segundo o texto de uma resolução aprovada nesta segunda-feira pelo Conselho Supremo (parlamento) da Crimeia.

“A República da Crimeia apela às Nações Unidas e a todos os países do mundo para que a reconheçam como Estado independente”, diz o documento aprovado pela assembleia, assim como o apelo para que a Federação Russa “aceite a República da Crimeia como membro”.

"Nós, os membros do Parlamento da República Autónoma da Crimeia e do Conselho da Cidade Sevastopol, com base na Carta das Nações Unidas e outros instrumentos internacionais que garantam o direito das nações à autodeterminação, e considerando confirmação estatuto do Kosovo pela Corte Internacional de Justiça da ONU 22 julho de 2010, afirmando que a declaração unilateral de independência do Estado não viola qualquer norma internacional, tomamos esta decisão ", diz o texto. 

O presidente do Parlamento da Crimeia, Vladimir Konstantinov, adiantou que as unidades militares ucranianas no território da Crimeia vão ser dissolvidas, mas os militares podem continuar a viver na península, se o desejarem. “Tudo o que se encontra aqui, no território, será nacionalizado. As unidades militares vão ser desmanteladas, e aqueles que quiserem podem continuar a viver aqui”.

O documento foi aprovado por todos os 85 deputados presentes à assembleia, com 100 assentos, após o referendo desse domingo (16), no qual a grande maioria dos habitantes da Crimeia votou pela junção do território à Rússia. "O Conselho Supremo da República Autônoma declara a Crimeia como Estado soberano independente“, informa o documento.
O documento foi aprovado por todos os 85 deputados presentes à assembleia, com 100 assentos, após o referendo desse domingo (16), no qual a grande maioria dos habitantes da Crimeia votou pela junção do território à Rússia. "O Conselho Supremo da República Autônoma declara a Crimeia como Estado soberano independente“, informa o documento.

Ainda de acordo com o texto, as leis ucranianas não serão mais aplicadas na Crimeia e as decisões tomadas pelo Estado desde a queda do presidente apoiado pelo Kremlin, Viktor Yanukóvitch, não têm qualquer autoridade. “As atividades das instituições estatais ucranianas no território terminaram e os seus poderes, propriedades e orçamento vão ser transferidos para os órgãos estatais da República da Crimeia”, diz o documento, acrescentando que “todos os estabelecimentos, empresas e organizações ucranianas ou com participação na Crimeia vão ser propriedade do novo território”.

Aksyonov adiantou, na rede social Twitter, que 500 soldados ucranianos deixaram as suas posições em Sebastopol, sede da frota no Mar Negro. No referendo de domingo, 96,6% dos eleitores da Crimeia votaram a favor da reunificação com a Rússia, informou o presidente da Comissão Eleitoral da Crimeia, Mikhailo Malychev.

Da redação do Vermelho,
Com informações do Russia Today e da Agência Brasil









sexta-feira, 14 de março de 2014

Dilma, Tinga e árbitro se reúnem para discutir combate ao racismo

Vítimas de racismo no futebol e representantes do movimento negro se reuniram, na tarde desta quinta-feira (13), com a presidenta Dilma Rousseff para discutir formas de combate ao preconceito racial. O governo pretende utilizar a Copa do Mundo deste ano, no Brasil, para propagar mensagens contrárias à discriminação e a favor da paz. 


Dilma entre o árbitro Mário Chagas e o jogador Tinga, em encontro em Brasília. Foto: Divulgação.

O volante do Cruzeiro, Paulo César Nascimento, conhecido como Tinga, disse, depois do encontro, que a luta contra o preconceito vai além do Mundial, e não envolve apenas o aspecto racial. “O preconceito maior, no que acredito, é o social, de classes. Toda e qualquer prática de preconceito tem que ser banida”, disse.

Dilma entre o árbitro Mário Chagas e o jogador Tinga, em encontro em Brasília. Foto: Divulgação.Tinga e o árbitro Márcio Chagas da Silva foram vítimas de racismo recentemente, durante partidas de futebol. O jogador opinou à presidenta ser possível acabar com a discriminação apenas por meio da educação. Pelo Twitter, Dilma já havia prestado solidariedade a eles e afirmado que a Copa das Copas será também a Copa contra o racismo.

Diante da necessidade, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e o governo federal vão sugerir que os atletas se manifestem contra o racismo.

De acordo com o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, as mensagens poderão ser compartilhadas por meio de frases lidas por capitães das equipes que disputarão o Mundial, por faixas exibidas pelas equipes ou por atos organizados pela Fifa. Principalmente pela Copa ser no Brasil, um país miscigenado, que tem atitude dura com relação a essa questão. Racismo é inafiançável e imprescritível, afirmou.

“Eu não tenho como dimensionar o quanto é doloroso, é uma dor que fere a alma, o sentimento do ser humano”, afirmou Márcio Chagas. O juiz acredita ter tomado a medida certa, expondo a situação e a denunciando ao Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Gaúcha.


O foco do combate ao racismo, no entanto, não deve ficar apenas no futebol. “A grande contribuição que o movimento negro trouxe para essa discussão é que a questão principal não é o racismo na Copa do Mundo”, contou Luiza Bairros, ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

Representantes de movimentos negros falaram com Dilma em seguida. Arilson Ventura, da Coordenação Nacional de Quilombos e do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, revelou que uma das propostas feitas à presidenta foi a de inversão na ordem da mensagem da Copa, para que em vez de “Pela paz e contra o racismo” seja “Contra o racismo e pela paz”.

“A gente vem sofrendo racismo há mais de 300 anos, no Brasil, e às vezes as pessoas fingem que ele não existe. Esta é uma oportunidade para que as pessoas de todo o mundo vejam que o racismo realmente existe”, avaliou Ventura.

O governo acredita que as leis sobre o assunto não precisam ser atualizadas, apenas cumpridas com rigor, de modo que os responsáveis sejam identificados e punidos. "É preciso utilizar as ações do governo federal para mobilizar outras instituições, inclusive do Judiciário, para que a legislação possa ser utilizada de modo mais efetivo, em favor da punição dos crimes de racismo”, comentou Luiza Bairros.

Fonte: Agência Brasil e Blog do Planalto

FGTS pode ser usado para pagar pensão alimentícia

A Justiça Federal decidiu hoje (13) que o trabalhador pode usar o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para pagar a pensão alimentícia. O entendimento foi firmado pela Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU), vinculada ao Conselho da Justiça Federal (CJF).



Os integrantes do colegiado decidiram restabelecer uma decisão da Justiça de Santa Catarina que autorizou um trabalhador a sacar o valor retido na conta do FGTS para fazer o pagamento do débito. A decisão foi revertida em função do entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que autoriza o saque.

De acordo com a turma, apesar da Lei 8.036/90, que trata dos casos em que o dinheiro pode ser sacado, não definir que o dinheiro do FGTS deve ser utilizado para pagamento de pensão, a necessidade de garantir alimentos é assegurada pela Constituição.

"Segundo o entendimento do STJ, está a obrigação alimentícia devida pelo titular da conta vinculada a seus dependentes, em decorrência dos princípios constitucionais da proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana”, afirmou o juiz federal Gláucio Maciel, relator do processo.

Fonte: Agência Brasil

quinta-feira, 13 de março de 2014

ONU alerta que drogas movimentam US$ 320 bilhões por ano

A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou nesta quinta-feira (13) que as drogas constituem ameaça internacional que movimenta, pelo menos, US$ 320 bilhões (cerca de R$ 756 bilhões) por ano e que o mercado se manteve estável nos últimos cinco anos.

“O tráfico de drogas é um negócio multimilionário que alimenta as redes criminais em um nível que ainda hoje não conseguimos perceber bem. As drogas ilegais geram cerca de US$ 320 bilhões anuais, e esse é um valor calculado por baixo”, afirmou o secretário-geral adjunto da ONU, Jan Eliasson.

Está sendo aberta hoje a reunião da Comissão de Narcóticos das Nações Unidas, que reúne mais de 120 países para debater o problema mundial das drogas. Segundo Eliasson, o tráfico de drogas mina o primado da lei e gera corrupção, o que, por sua vez, tem impacto negativo sobre o desenvolvimento.

“As drogas ilícitas e o narcotráfico afetam de forma desproporcional os mais pobres e vulneráveis”, enfatizou, defendendo que, na luta contra as drogas, o respeito aos direitos humanos deve ser um princípio fundamental.

O secretário também indicou que devem ser consideradas alternativas à prisão dos consumidores de drogas e sustentou que os verdadeiros criminosos são os traficantes. Sobre o futuro, Jan Eliasson disse que não se deve temer o estudo de ideias e perspectivas inovadoras, apesar de considerar que as atuais convenções internacionais devem ser a base de qualquer prática.

O diretor executivo do Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime, Yuri Fedotov, disse que as drogas representam uma grande ameaça para a saúde das pessoas e para o desenvolvimento de vários países. Segundo ele, a magnitude geral da procura de drogas não se alterou substancialmente em nível mundial, o que contrasta com os objetivos fixados em 2009 para eliminar ou reduzir de forma significativa o consumo até 2019.

Entre os êxitos mais recentes, Fedotov assegurou que o mercado de cocaína caiu e que as plantações de folha de coca diminuíram cerca de 26% entre 2007 e 2011. Em relação aos retrocessos, destacam-se a piora da situação no Afeganistão, onde no ano passado houve uma colheita recorde de ópio, de 209 mil hectares, e o aumento da violência na América Central.

Assim como o secretário-geral adjunto, o diretor executivo contra as drogas defendeu uma abordagem que encare o problema como uma questão de saúde pública e não simplesmente criminal. Ele sugeriu que sejam procuradas alternativas à penalização e à prisão. Fedotov acrescentou que a pena de morte aplicada em delitos não violentos relacionados às drogas não está no espírito das normativas internacionais.


Fonte: Agência Brasil

terça-feira, 11 de março de 2014

Eleição Sindical: Metalurgicos de Betim vão às urnas a partir desta quarta-feira

Os metalúrgicos sócios do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas, em Minas Gerais, começam a ir às urnas nesta quarta-feira (12), quando tem início o processo eleitoral para renovação da diretoria da entidade. As votações prosseguem até a próxima sexta-feira (14).
Chapa-Garra-Metalurgica
Para votar, no período de 9 horas às 18 horas, os metalúrgicos sócios do Sindicato terão à disposição urnas fixas que estarão instaladas em sua sede, no centro de Betim; no Centro de Atividades Técnicas do Trabalhador (CATT), escola profissionalizante mantida pelo entidade, e também em sua subsede.
Votos também serão colhidos em urnas itinerantes que irão percorrer as fábricas metalúrgicas instaladas nas regiões de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas, que compõem a base de representação do Sindicato.

Única inscrita para participar das eleições, a Chapa 1 – Garra Metalúrgica é encabeçada pelo atual presidente da entidade, João Alves de Almeida, que concorrerá, desta forma, ao seu segundo mandato à frente do Sindicato.

Para João Alves, a presença de apenas uma chapa na eleição aumenta a importância da participação dos sócios na votação. “É uma forma de reafirmar a confiança que os associados do Sindicato têm na maneira como a vida da entidade vem sendo conduzida nos últimos anos, com a defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, na luta contra as perseguições e injustiças dentro das fábricas e, claro, no cuidado e a transparência com o patrimônio da categoria”, destaca.
João Alves faz questão de frisar que o programa de trabalho da Chapa 1 já foi apresentado à categoria através da distribuição de materiais impressos e informações que vêm sendo divulgadas, em redes sociais, desde o início do processo eleitoral.
“Renovação, com democracia e luta”
chapa garra metalurgica joao-alves
A Chapa 1 – Garra Metalúrgica, que tem como mote a frase “Renovação, com democracia e luta”, apresenta uma renovação de 25% entre os membros para a nova diretoria, com metalúrgicos oriundos de empresas como a Fiat Automóveis, Nemak, Teksid, Toshiba, Denso Térmicos, Denso Rotantes, Magna, SAE Towers, dentre outras.

Dentre os princípios que irão nortear as ações da Chapa 1 – Garra Metalúrgica na condução da entidade pelos próximos três anos estão a defesa de uma base classista, unitária, democrática, plural e de luta, num projeto político que está em sintonia com o que prega a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), à qual o Sindicato é filiado.
De acordo com João Alves, o projeto defendido pela Chapa 1 tem como essência a melhoria das condições de trabalho de uma forma geral para os trabalhadores da categoria em Betim, que devem se valer de instrumentos que possam permitir a eles enfrentar os obstáculos impostos pelas empresas contra a falta de democracia, a liberdade de organização e autonomia dentro das fábricas. “Por isso, iremos reforçar as ações que visem a ampliar e tornar mais efetiva a participação dos metalúrgicos nas lutas políticas e na vida do próprio Sindicato”, reforça.
O programa de trabalho da Chapa 1 – Garra Metalúrgica tem ainda como princípios, no plano nacional, a defesa da ampla unidade e fortalecimento da classe trabalhadora, fator fundamental que deve ser priorizado em torno de uma plataforma de resistência e luta e da defesa de reivindicações importantes para os trabalhadores.
“Neste sentido, a partir da lutas no plano local, ou seja, em Betim e região, é que o projeto político da Chapa 1 – Garra Metalúrgica reforça a necessidade de ações de mobilização e unidade dos trabalhadores rumo à realização de reformas estruturais no Brasil, para assegurar a soberania nacional, defender a democracia e o progresso social, com base num novo projeto de desenvolvimento, que tenha como norte a valorização do trabalho, dos trabalhadores, dos salários e das condições de trabalho”, completa João Alves.
Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos de Betim

Metade dos brasileiros já se informa pela internet

Najla Passos

Arquivo
Brasília - A internet já é o principal meio de informação para metade dos brasileiros (47%), segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2014, da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República. A TV continua como o meio de comunicação que mais atinge a população do país (97%), seguida pelo rádio (61%), mas ambos perdem terreno entre o público mais jovem, justamente onde a internet avança. Já os veículos impressos patinam em todas as faixas etárias: só 6% dos brasileiros leem jornal diariamente e apenas 1%, revistas.


A internet ganha mais peso quando os entrevistados indicam o meio de comunicação preferido, ainda que a quase totalidade deles usem mais de um para se informar. A TV continua na dianteira (76,4%), seguida pela internet (13,1%), pelo rádio (7,9%), pelos jornais impressos (1,5%) e pelas revistas (0,3%). Na internet, 32% dos entrevistados apontam as redes sociais como meio preferido, inclusive, para se informar.



“Todos nós tínhamos ideia clara que a importância da internet na informação vinha crescendo. Como não temos pesquisa anterior do mesmo tamanho, não se pode fazer uma comparação, mas se pode hoje dizer que sim, quase metade dos brasileiros se informa e usa a internet como meio cotidiano e rotineiro da informação. Isso é muito importante tanto para as políticas de comunicação quanto como retrato de como o brasileiro se informa”, afirmou o ministro-chefe da Secom, Thomas Traumann.



A pesquisa é a maior do gênero já realizada no país e a primeira que mostra de forma clara em que meio o brasileiro busca informações. O trabalho de campo deu-se entre os dias 12 de outubro e 6 de novembro de 2013, quando 200 pesquisadores aplicaram 75 perguntas a 18.312 brasileiros em 848 municípios, de todas as unidades da federação. A elaboração do questionário, a coleta de dados, a checagem e o processamento dos resultados estiveram a cargo do IBOPE Inteligência, contratado pela Secom, por meio de licitação.



O estudo mostra que a maior parte dos brasileiros assiste TV todos os dias da semana (65%). A pesquisa aponta também que 31% dos lares brasileiros são atendidos por um serviço pago de TV, em contraste com a ampla presença da TV aberta, que está em 91% dos domicílios. Em  24% dos casos, há os dois serviços.
No caso do rádio, um em cada cinco brasileiros (21%) ouve todos os dias, enquanto dois quintos (39%) nunca o fazem. Tal como a TV, o hábito é maior entre os mais velhos: sobe de 15% entre os mais jovens para 26% entre a população com mais de 65 anos.



O estudo mostra ainda que a mídia impressa desaparece aceleradamente da preferência dos brasileiros: 76% nunca leem jornais e 85%, revistas. Enquanto 24% ainda leem jornais pelo menos uma vez por semana, no caso das revistas o índice cai para 7%. Entre os jornais mais citados pelos entrevistados, figuram os meios regionais, que priorizam notícias locais. O Extra, do Rio de Janeiro, foi o mais lembrado, contando com 7,5% dos leitores. O Globo foi citado por apenas 3,5% dos entrevistados, a Folha de S. Paulo, por 1,3%, e o Estado de São Paulo, por 1,1%. Dentre as revistas, a Veja foi lembrada por 25,5% dos leitores, seguida pela Caras, citada por 9,3%.

Fonte: Carta Maior

Parlamento da Crimeia declara independência e prepara referendo

O parlamento da República Autônoma da Crimeia, no sul da Ucrânia, adotou uma declaração de independência necessária para a realização do referendo popular, previsto para o domingo (16). A declaração menciona uma decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) de 22 de julho de 2010, segundo a qual, referindo-se à província sérvia de Kosovo, a declaração unilateral de independência de parte de um país não viola o direito internacional.


Cidadãos da Crimeia são instados a votar no referendo à declaração de independência da região autônoma da Ucrânia para a reintegração à Rússia. No cartaz, a opção entre permanecer atado a um governo golpista e fascista na Ucrânia ou integrar a Rússia.
Cidadãos da Crimeia são instados a votar no referendo à declaração de independência da região autônoma da Ucrânia para a reintegração à Rússia. No cartaz, a opção entre permanecer atado a um governo golpista e fascista na Ucrânia ou integrar a Rússia.



“Nós, os membros do parlamento da República Autônoma da Crimeia e do Conselho da cidade de Sevastopol, com respeito à Carta das Nações Unidas e à toda a abrangência dos documentos internacionais, levando em consideração a confirmação do estatuto de Kosovo pelo Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas, em 22 de julho de 2010, que diz que a declaração unilateral de independência de uma parte do país não viola qualquer norma internacional, tomamos esta decisão”, afirma o documento.

A declaração foi divulgada nesta terça-feira (11), e 78 dos 100 membros do Parlamento votaram favoravelmente ao texto. Na segunda-feira (10), a representação da Crimeia também convidou a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) a enviar observadores durante o referendo.

A votação parlamentar abre o caminho para o referendo previsto para o domingo, sobre a reintegração da região autônoma e da estratégica cidade de Sevastopol ao território da Rússia, de que foram cedidas controversamente em 1954. 

Se o referendo aprovar a medida, as autoridades da Crimeia requererão que o seu país se torne uma república constituinte da Federação Russa. 

A declaração foi assinada pelo líder do Conselho Supremo da Crimeia, Vladimir Konstantinov, e pelo chefe do Conselho Municipal de Sevastopol, Yury Doynikov. “Adotamos esta declaração de independência para legitimar o referendo que se aproxima e para fazê-lo de forma transparente,” disse Konstantinov. 

Preparar o referendo e avançar

O líder do Conselho afirmou que, “a partir de agora, declaramo-nos a República da Crimeia, sem a palavra ‘autônoma’,” e o país nunca se reintegrará à Ucrânia.

“A Crimeia não voltará a ser parte da Ucrânia mesmo que o presidente deposto, Viktor Yanukovich, retorne ao poder. O país onde vivíamos não existe mais. Estamos seguindo o nosso próprio caminho e tentando fazê-lo apressadamente.”

Konstantinov disse que a Crimeia adotará o rublo russo como a sua moeda logo após o referendo. Enquanto isso, as autoridades preparam-se para as votações do domingo, de acordo com o líder Conselho Supremo da Crimeia. Ele reafirmou a convicção de que o referendo aprovará a declaração aprovada nesta terça.

Quase 80% dos eleitores na Crimeia devem votar pela reintegração à Rússia, de acordo com uma pesquisa de opinião conduzida pelo Instituto Republicano de Pesquisa Política e Sociológica da Crimeia. Em Sevastopol, uma cidade com estatuto especial na península da Crimeia, 85% dos eleitores entrevistados disseram que votarão a favor da medida.

Além disso, a pesquisa também indica que 97% da população em Sevastopol e na Crimeia em geral veem a situação na Ucrânia e a derrubada inconstitucional do governo negativamente, enquanto 84% dizem que o país está vivendo uma crise. Ainda, 83% da população da Crimeia desaprovam o governo interino formado após o golpe em Kiev.

Com informações da Russia Today,
Tradução da Redação do Vermelho

sexta-feira, 7 de março de 2014

'Mídia traz uma Venezuela caricata, completamente deslocada da realidade'

Valéria Nader - Correio da Cidadania
(*) Entrevista publicada originalmente no Correio da Cidadania.

Acompanhar o noticiário internacional é sempre uma experiência que demanda discernimento – afinal, trata-se de notícias que vêm de longe e que, além de obviamente sujeitas ao viés analítico e ideológico do órgão de comunicação que as irradia, são relativas a fatos não vivenciados no dia a dia do público leitor. No Brasil, precisa-se de bem mais que discernimento para passar por esta experiência – muita desconfiança e dois pés pra trás talvez não deem conta da tarefa, especialmente se estão em foco países que tomaram um rumo que fuja minimamente ao que determina o mainstream.

A Venezuela é certamente um desses países. E não se trata aqui de tecer louvores ao país latino-americano, o qual, a exemplo de tantas outras nações de nossa região, tem uma trajetória marcada por uma série de contradições e precariedades sociais e políticas. Trata-se simplesmente de apelar para noções básicas e primárias do jornalismo, de modo que, diante dos fatos, se porte com um mínimo de seriedade e isenção.

Assistir  aos noticiários ou ler matérias dos maiores grupos de mídia sobre os últimos manifestos na Venezuela é se deparar, no entanto, sem exceção, com um bloco monocórdio, parcial e tendencioso. Um dos jornais televisivos de maior repercussão no país, o Jornal Nacional da Rede Globo, em uma de suas edições da semana passada, chegou a trazer os acirrados acontecimentos da Venezuela, com sua população visivelmente dividida (como é de praxe em situações sociais de conflagração ou mais extremadas), a partir das falas, imagens e cenários de somente um dos lados – a oposição ao presidente Maduro e ao chavismo.

Ideias como as refletidas pela frase “Governo que cai? Não. Governo que sustenta grupos paramilitares e uma polícia política, dispostos a aterrorizar atos da oposição, espionar e matar”, seguida de posterior e literal alusão ao nazismo – frase de um editorialista da Folha de S. Paulo, na segunda-feira, 24 de fevereiro -, são quase exclusivamente o que se vê espelhado pela imprensa corporativa. Autênticas caricaturas de direita, ditadas pelos porta-vozes e críticos vorazes dos clichês que saem pela esquerda.

Para avançar o debate, o Correio da Cidadania insere-se na tentativa de outros veículos que procuram dar voz àqueles que não têm entrada na grande mídia e que apresentam fatos e visões que nela são quase proibidos. Na noite de segunda-feira, 24 de fevereiro, conversamos com Pedro Silva Barros. Professor licenciado do Departamento de Economia da PUC-SP e doutor em Integração da América Latina pela USP, é técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e titular da missão deste órgão do governo federal em Caracas, Venezuela, desde setembro de 2010.

Dentre as várias e abrangentes colocações sobre o país no qual vive há quase 4 anos, Barros destaca que “os canais estatais não superam, somados, 10% da audiência”. Ele está se referindo ao mesmo país e à mesma mídia que os meios de comunicação por aqui denunciam como “100% controlados pelo chavismo”.

Abaixo, a entrevista exclusiva.

Correio da Cidadania: A Venezuela está no olho do furacão e, para aqueles que observam de fora os acontecimentos políticos, o cenário é no mínimo confuso. O que você teria a comentar, em primeiro lugar, sobre os últimos e intensos protestos e a composição das forças oposicionistas (protagonizada por Henrique Capriles e Leopoldo López) que estão a mobilizá-los?

Pedro Barros: A oposição na Venezuela tem marchado unida dentro de sua multiplicidade. Depois de uma derrota de mais de 20% dos votos no referendo em que tentava revogar o mandato do presidente Chávez em 2004 e de boicotar as eleições parlamentares de 2005, apoiaram Manuel Rosales nas presidenciais de 2006 e Capriles nas eleições de 2012 contra Chávez e no apertado pleito de 2013 contra Maduro, além dos referendos para mudanças constitucionais de 2007, o único em que foram vitoriosos, e de 2009.

Em 2012, a economia venezuelana cresceu mais de 5% e a inflação havia diminuído, ainda que num patamar alto, próximo a 20%; Chávez venceu as eleições em outubro com mais de 10% de vantagem. No início de 2014, após a vitória governista nas eleições municipais de dezembro passado, houve uma aproximação do governador (de Miranda, o estado com as maiores taxas de homicídio do país) Capriles com o governo federal para tratar de temas específicos, notadamente segurança pública. Esse tema é particularmente importante quando se leva em conta que, em 2012, o presidente Chávez havia lançado o Plano Nacional de Segurança Pública e o governo de Miranda não havia participado desse processo. Talvez isso o tenha afastado dos setores mais radicais da oposição, liderados por Leopoldo López.

Nas últimas semanas, López, o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e a deputada María Corina lançaram o movimento “A Saída”, abrindo espaço para reivindicações extra-constitucionais. A despeito da condenação de Capriles e outras figuras históricas da oposição, parcela importante do movimento estudantil aderiu à radicalização, que culminou nos episódios violentos de 12 de fevereiro, que deixou três mortes, dezenas de feridos, inclusive das forças de segurança, e destruição de prédios públicos. Hoje as mortes já chegaram a quinze.

A justiça venezuelana expediu uma ordem de detenção de Leopoldo López, acusando-o de mentor intelectual dos protestos (formalmente, as acusações são associação para delinquência, danos ao patrimônio e incitação à violência). Ainda que seja um setor minoritário na oposição, o radicalismo tem ganhado força, particularmente na fronteira com a Colômbia e na região mais rica de Caracas. Alberto Ravell, jornalista muito influente na oposição, escreveu hoje pelo Twitter que “na Ucrânia já foi possível” - avalio que seja uma declaração bastante ilustrativa das intenções dos setores mais radicalizados.

Correio da Cidadania: O Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel disse à imprensa argentina que “há uma intenção de desestabilizar não apenas a economia, como também a ação social e política” na Venezuela, o que seria especialmente patrocinado pelos EUA. Como você encara esta possibilidade, ou seja, a ingerência externa na Venezuela?

Pedro Barros: A história recente da Venezuela é marcada pelo golpe de 2002, que levou o empresário Pedro Carmona ao poder por menos de 48 horas. Apenas os governos dos EUA de George W. Bush e da Espanha de José María Aznar, além do Fundo Monetário Internacional, reconheceram a legitimidade de Pedro, o Breve.  Desde então, foi frequente a tensão entre Venezuela e EUA.

Na semana passada, por exemplo, a deputada cubano-americana Ileana Ros-Lehtinen (Partido Republicano, Florida) afirmou que demandou ao presidente Barack Obama sanções econômicas à Venezuela. No mesmo ato em apoio às manifestações, realizado em Miami, Luigi Boria, prefeito de Doral, cidade com alta concentração de latinos na Florida, expôs que estava “muito entusiasmado porque acredito que agora sim se produzirá uma saída frente ao atropelo, à violação aos direitos humanos que se vive na Venezuela” e que “a experiência da Síria deve levar a uma reflexão do Departamento de Estado sobre as ações que se devem tomar. Acredito que os Estados Unidos e o presidente Obama devem tomar ações sobre a Venezuela”. Seria difícil não considerar natural e legítimo que o governo e os venezuelanos se preocupem com esse tipo de demanda externa.

Nem seria necessário elencar as intervenções norte-americanas na América Latina ou em países exportadores de petróleo, apenas lembrar que a Venezuela está a três horas de voo de Miami e possui reservas de mais de 300 bilhões de barris de petróleo, a maior do mundo. De acordo com a Agência Internacional de Energia e com o principal anuário estatístico do tema, editado pela petrolífera britânica BP, a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo. Ainda que seja predominantemente um petróleo pesado, cujo custo de refinação de um barril supera US$ 20, ele é vendido a quase US$ 100 por barril.

Talvez valha ainda apontar que, há dez anos, a Venezuela não exportava nenhuma gota de petróleo para a China e hoje vende mais de 400 mil barris diários para seu maior parceiro asiático.

Correio da Cidadania: Em que medida, de todo modo, a tensão está associada às reais condições sociais e econômicas do país, que têm de fato se precarizado, sobrepondo-se ao cenário e visão tão polarizados quando a Venezuela está em foco?

Pedro Barros: Nos quinze anos de chavismo, a Venezuela foi o país do mundo que mais distribuiu renda e combateu a pobreza. Isso foi impulsionado pelo incremento do investimento social, permitido pelo aumento da arrecadação, principalmente devido ao aumento do controle do governo sobre a renda petroleira, que foi particularmente alta nesse período. O mesmo êxito não ocorreu nas tentativas de diversificar a economia e, mais recentemente, no controle de importantes variáveis macroeconômicas, como o câmbio ou a inflação.

Há evidentes problemas na economia venezuelana; ao mesmo tempo, a maioria da população tem a clareza de que a alternativa não é retornar ao passado. A repetição da saída fracassada de 2002 é improvável em um cenário em que as forças armadas, a estatal petroleira e parte dos meios de comunicação estão comprometidas com o processo político em curso. Em 2002, parte considerável da cúpula militar, a maioria da direção da estatal petroleira PDVSA e todos os meios de comunicação relevantes estavam absolutamente comprometidos com o golpe - mesmo assim, o povo na rua, em atitude inédita na região, reverteu as ambições desses setores.

Naquele tempo, por exemplo, não estavam estruturadas as missões sociais, as redes de distribuição de alimentos a preços bastante subsidiados. A pobreza extrema chegava a 13,5% da população, hoje está em 2,5%, um número fantástico para um país latino-americano. Não há grandes mudanças no estoque de riqueza (patrimônio), mas os resultados na distribuição de renda são fabulosos: a CEPAL aponta a Venezuela como a melhor distribuição de renda da América Latina, medida pelo coeficiente de Gini, superando o Uruguai ou a Costa Rica. O governo construiu uma grande rede com 27 mil pontos de distribuição de alimentos entre hipermercados, mercados médios e postos itinerantes. Ainda que haja escassez de alguns itens, o consumo per capita de proteína triplicou em 15 anos, a mendicância praticamente inexiste, ninguém passa fome. As camadas mais pobres da população vivem melhor e têm muito mais conhecimento sobre os seus direitos.

Há também uma economia difícil de ser analisada a partir do exterior. Os subsídios são imensos, particularmente sobre energia, transporte, comunicação, alimentos básicos e itens de primeira necessidade. Uma lata de refrigerante custa quatro vezes mais do que um tanque de 50 litros de gasolina em um mesmo posto de serviço. Uma parcela muito pequena da população tem renda familiar inferior a 5 mil bolívares. Um bilhete do metrô de Caracas custa 1,5 bolívares, o mesmo valor de um minuto de ligação de um celular venezuelano para um celular no Brasil; o custo mensal do gás residencial é de 8 bolívares para mais de 90% dos consumidores; a assinatura da TV a cabo por mês custa aproximadamente 300 bolívares. Isso permite um padrão de consumo para a maioria dos venezuelanos que apenas uma minoria dos latino-americanos consegue ter.

Ao mesmo tempo, há distorções importantes, a escassez e as filas têm aumentado, parece que uma parte importante das classes médias não está disposta a enfrentá-las em seu cotidiano e alguns mercados não querem tê-las, restringindo o acesso e limitando a compra dos produtos subsidiados. Nos últimos anos, esses impasses foram equacionados e legitimados em disputas eleitorais: o governo mostrando as conquistas e a oposição, as limitações do modelo político, social e econômico. Vários organismos internacionais e organizações renomadas, como a Unasul e o Centro Carter, têm reconhecido as eleições e o sistema eleitoral da Venezuela como justo e limpo. Os resultados têm sido ligeiramente favoráveis ao chavismo.  A oposição governa em importantes estados, como Miranda e Lara, e cidades, como Caracas, Maracaibo e Barinas, capital do estado homônimo onde Hugo Chávez nasceu e seu irmão mais velho atualmente governa.

Conheço todos, todos os países da América Latina, todos os estados do Brasil e 21 dos 23 estados venezuelanos; não tenho a menor dúvida em afirmar que a Venezuela é o melhor país da região para alguém que está na metade mais pobre da população viver, se alimentar, ter acesso à educação e a bens de consumo. Não poderia dizer o mesmo na primeira vez que estive aqui, pouco mais de uma década atrás. O fenômeno migratório é ilustrativo. Ao mesmo tempo em que algumas dezenas de milhares venezuelanos das classes altas e médias emigram, principalmente para Estados Unidos, Colômbia e Panamá, a quase totalidade dos aproximadamente três milhões de colombianos, peruanos e equatorianos das classes médias e baixas que imigraram para a Venezuela permanece aqui.

Analogicamente, a população universitária do país chega a dois milhões de estudantes, 7% da população está cursando o nível superior hoje na Venezuela (no Brasil, este número é menor que 3,5%, ainda que tenha dobrado nos últimos dez anos), mas a produção científica e a inovação avançaram pouco por aqui.

Correio da Cidadania: Como enxerga, neste sentido, o desempenho do governo, primeiro de Chávez, e agora de Maduro, e sua relação com a degringolada da situação econômica e social do país, visto haver intensos relatos de carestia, inflação galopante, crescente dívida externa, entre outros?

Pedro Barros: A Venezuela oscilou anos de forte crescimento econômico com outros de estagnação ou recessão.

É permanente a tensão entre manter o bolívar valorizado, garantindo subsídios às importações, ou desvalorizá-lo para tentar diversificar a economia, com riscos de carestia no curto prazo. A opção do governo tem sido a primeira. No último ano, a sua principal preocupação foi se legitimar politicamente. No campo econômico, porém, se destacaram a inflação e o desabastecimento de alguns produtos. O presidente Maduro foi eleito em abril, pouco mais de um mês após a morte de Hugo Chávez. Havia pressão inflacionária e certo descontrole do mercado cambial paralelo. Ainda que a dívida externa tenha crescido e as reservas internacionais tenham caído, a balança comercial da Venezuela ainda é superavitária. Mais de 70% das reservas venezuelanas são precificadas em ouro, cujo preço frente ao dólar recuou algo como 30% em 2013, mas já recuperou quase 10% neste ano; as reservas totais, porém, são o dobro do que eram há quinze anos.
 
A dívida externa de curto prazo é estável e menor do que as reservas. A dívida de longo prazo continua um pouco inferior às receitas de doze meses de exportação petroleira. Isso traz algum conforto para uma economia tão questionada. Há trinta anos a Venezuela não consegue ter três anos seguidos de inflação abaixo de 20%; nessas três décadas o período de inflação mais baixa foi o do governo de Hugo Chávez. Os outros dois governos, de Carlos Andrés Pérez e Rafale Caldera, tiveram taxas de inflação média superiores aos 56% nos últimos doze meses.

Talvez a ausência de Chávez tenha anestesiado um pouco o país e o governo. Provavelmente seria imprescindível uma grande estabilidade política para ajustes de longo prazo na política econômica, mas a vitória bastante apertada, a demora da oposição em reconhecer a derrota e as eleições municipais de dezembro impuseram outras prioridades, de curto prazo.

A política de impor redução de preços com coerção estatal (particularmente dos bens de consumo que eram adquiridos com taxas de câmbio preferenciais e revendidos ao preço do mercado cambial paralelo) obteve grande apoio e sustentou um aumento da popularidade do presidente Maduro no último trimestre de 2013. A oposição tinha a leitura de que a situação econômica havia se deteriorado no curso do ano e que isso comprometeria o desempenho eleitoral dos candidatos governistas. O próprio Capriles apresentava a eleição de dezembro como um plebiscito sobre Maduro. As urnas, porém, garantiram a vitória chavista em 75% das cidades do país.

No início do ano, principalmente após o assassinato brutal da modelo Mónica Spear, o tema da segurança pública tomou conta do debate político. Houve uma aproximação entre governantes das mais variadas matrizes políticas para tentar amenizar o problema e concertar políticas públicas conjuntas. Parte mais radical da oposição passou a questionar a liderança de Capriles e a estimular protestos violentos.

Correio da Cidadania: Como você analisa o gesto político de López, que se entregou semana passada à polícia venezuelana, sem deixar de fazer discursos de estímulo a seus seguidores?

Pedro Barros: Há uma disputa interna da oposição entre, ao menos, duas táticas para chegar ao poder. É parte de qualquer processo político que haja divisões dentro das grandes coalizões. Há disputas dentro do chavismo e há embates internos na oposição. Nos últimos anos, porém, os moderados ganharam espaço em ambos os lados.

Muita gente diz que não é fácil ser político sem mandato. Leopoldo López, que havia abandonado a prévia da oposição que definiu Capriles como candidato em 2012, aparentemente apostou no tudo ou nada e parte significativa de seus seguidores defendem a ruptura institucional. Os oposicionistas que têm tido votos, como o governador de Lara Henri Falcón, um ex-chavista, porém, são muito mais moderados. Agora pela noite, em reunião do Conselho Federal de Governo, ele defendeu que é hora de isolar os violentos e diminuir o tom do discurso.

O prefeito oposicionista de Baruta (região de Caracas), Gerardo Blayd, afirmou hoje que os protestos devem ser “racionais e pacíficos”. O mesmo vale para o prefeito de Chacao, Ramón Muchacho. Essa visão encontra pouco apoio entre os manifestantes, mas é música para os ouvidos da imensa maioria da população, fatigada pela polarização e marcada pelo massacre do Caracazo, que completará 25 anos na quinta-feira, pelo golpe de 2002 e pelo locaute do fim de 2002 e início de 2003.

Correio da Cidadania: Qual a sua opinião sobre a cobertura da mídia, interna e externamente à Venezuela, no geral e no que se refere aos acontecimentos aqui narrados?

Pedro Barros: Diferentemente de 2002, hoje há acesso plural às informações na Venezuela. Nesta manhã fui à banca e contei dez jornais diferentes, todos eles impressos com papel subsidiado. Oito eram oposicionistas, com diferentes ênfases.

Sugiro a visita aos sítios do influente eluniversal.com, do tradicional el-nacional.com, do talcualdigital.com, que nasceu para se opor ao chavismo, do econômico elmundo.com.ve, do ultimasnoticias.com.ve, que é o mais vendido, e do governista correodelorinoco.gob.ve. Os dois canais mais vistos da TV aberta, os privados Venevisión e Televen, que foram protagonistas do golpe em 2002, não dão maior destaque às questões políticas. Também a privada Globovisión, que antes só apresentava os pontos de vista da oposição, tem se preocupado em dar espaço ao governo. Os canais estatais não superam, somados, 10% da audiência.

Na TV paga, que aqui é muito mais acessível e vista do que no Brasil, há vários canais oposicionistas, inclusive a CNN em espanhol, que tem entrevistado vários oposicionistas venezuelanos, ainda que seja um canal regional. Evidentemente, a TeleSUR é seu maior contraponto. No rádio também há grande diversidade, a maior parte das emissoras privadas são abertamente de oposição, contrapostas pelas emissoras públicas e, principalmente, comunitárias, que têm muito espaço na Venezuela.

A cobertura internacional é majoritariamente contrária ao governo, que parece ter concentrado seus esforços em divulgar internamente suas ideias e ações. Nos últimos anos, outros países da região talvez estejam seguindo esse mesmo caminho introspectivo. Surpreende muito o comportamento da imprensa brasileira, particularmente dos jornais, que antes apresentavam o ponto de vista do governo venezuelano, ainda que se opusessem a ele.

Vou concentrar meus comentários na Folha de S. Paulo, que acompanho diariamente desde que me alfabetizei, o que prossigo fazendo hoje, assinando e lendo a versão eletrônica sistematicamente; e na TV Globo, na qual assisto ao noticiário por meio da Globo Internacional. O conteúdo mais desinforma do que informa e a análise, extremamente caricata, é completamente deslocada da realidade.

Ambos os veículos enviaram jornalistas ao país na última semana, e nenhum deles procurou o governo ou qualquer posicionamento simpático a ele em qualquer de suas reportagens. Quando se cita o governo ou se apresenta alguma declaração, restringe-se a imagens e pequenas frases que são reproduzidas pelas agências de notícias tradicionais. A coletiva do presidente Maduro à imprensa internacional na sexta passada, reportada no mundo todo, não contou com a presença ou a menção desses veículos de comunicação.

No início da semana passada, o Jornal Nacional apresentou duas entrevistas de rua para encerrar a matéria uníssona de que uma ditadura estava em curso; na primeira, ao ser perguntado sobre o que esperava para os próximos dias, o entrevistado afirmou seu desejo de que o governo caia; na segunda, veio uma ressalva: que não tenha derramamento de sangue. Um roteiro para um golpe a la Honduras e Paraguai.

Se eu não acompanhasse a Venezuela e estivesse no Brasil, provavelmente teria essa leitura. Mais para o fim da semana, a mesma repórter foi enfática: “Os protestos continuam proibidos, mas os estudantes não saem das ruas”. As manifestações perdiam intensidade e os governos Chávez e Maduro nunca proibiram protestos na Venezuela, que têm menos restrições e mais proteção para serem realizados do que na grande maioria das democracias, inclusive do que no Brasil. O problema da violência e do excesso de armas na Venezuela vai muito além e independe dos protestos em curso. Os excessos cometidos, que evidentemente existiram, estão sendo investigados.

Os funcionários do serviço de inteligência que descumpriram a ordem de aquartelamento e atiraram no dia 12 de fevereiro estão detidos e a investigação está em curso. O assassinato da estudante que havia sido miss turismo do estado de Carabobo foi causado por um tiro pelas costas, as investigações também estão em curso, mas, provavelmente, o tiro partiu de manifestantes da oposição. Os comentaristas brasileiros foram taxativos ao responsabilizar os “colectivos” pela morte.

Até agora, em duas semanas de protestos, na contabilidade mais ampla, da ONG Foro Penal, foram 539 detidos em toda a Venezuela, a grande maioria já liberados; 19 estão privados de liberdade por decisão judicial, segundo a mesma contagem. Apenas no sábado passado 262 foram detidos, incluindo 5 jornalistas, em um único protesto em São Paulo, que talvez tenha sido menos violento do que os que têm ocorrido aqui.

Hoje à noite, a mesma Delis Ortiz apresentava o general aposentado Angel Vivas como um herói, respaldado por seus vizinhos por resistir a uma ordem de detenção com um fuzil norte-americano nas mãos e uma pistola na cintura na varanda de sua casa. Sequer comentou a motivação da ação policial: ele havia aconselhado os manifestantes a utilizarem arame farpado nos bloqueios de rua e, horas depois, um trabalhador que voltava para casa em sua moto foi morto com o pescoço cortado por essas barricadas. Na reportagem, foi apresentada a vaga acusação de incitação à violência, sem nenhuma referência ao fato concreto. Na conta da imprensa brasileira, foi mais um manifestante que caiu em combate contra as forças da ditadura.

Fico a pensar qual seria a reação dos mesmos jornalistas se uma figura pública brasileira tivesse, um dia antes da trágica morte do cinegrafista Santiago Andrade, incentivado que os manifestantes que protestam contra o aumento da passagem de ônibus no Brasil utilizassem rojões contra a polícia, alegando que ela havia reprimido desproporcionalmente em atos do passado próximo.

A enviada da Folha de S. Paulo tem escrito diariamente, raramente cita uma fonte governamental ou uma posição que não seja de oposição radical a tudo que foi feito na Venezuela nos últimos quinze anos. As opiniões, quando não são de políticos opositores, são de ONGs opositoras. Tenta reportar que há manifestantes que lutam contra uma ditatura, que não podem utilizar meios eletrônicos e enfrentam o terror de bandos armados clandestinos que defendem o governo, que permite que eles pratiquem crimes variados impunemente.

Tanto a enviada, como um ex-correspondente que publicou artigo de análise do caso venezuelano, como outro analista de temas aleatórios, apresentam uma absoluta confusão entre colectivos, milícias e paramilitares, como se tudo fosse a mesma coisa, como se não existisse uma lei que regulamentasse as milícias como reservistas e parte da defesa nacional da Venezuela, independente de sua coloração política, e que atuam fardados e identificados. Como se participar de um movimento social fosse, em si, um crime. Como se o que acontece no México ou na Colômbia fosse transposto automaticamente à Venezuela. Utilizam o termo milícias como se fossem os grupos que controlam ou controlavam áreas do Rio de Janeiro.

Ontem o jornal publicou textualmente que a estratégia atual do governo era bloquear Twitter e Facebook, usando essa terminologia. Não consulto esses meios com frequência, mas meus colegas de trabalho e alguns amigos, sim: foram unânimes em afirmar que isso nunca aconteceu na Venezuela. Pode ter havido oscilação na velocidade da internet, mas nunca o Twitter foi retirado do ar ou coisa parecida, basta ver a sequência de publicação das mensagens de venezuelanos. A própria enviada postou pelo Twitter, a partir de Caracas, que não poderia utilizar redes sociais. Em poucos países do mundo esses instrumentos são tão utilizados e democratizados pelo amplo acesso à internet como na Venezuela, que tem a rede mais abrangente e de menor custo da América Latina. Provavelmente, eles nunca haviam sido tão utilizados aqui como nos últimos dias.

Infelizmente, para o leitor brasileiro que gostaria de saber o que está acontecendo na Venezuela, o jornal nunca reportou os mais de 4 milhões de laptops com acesso à internet distribuídos gratuitamente para estudantes da educação básica e média.
 
A palavra “canaimita”, que denomina esses computadores, nunca foi publicada pela Folha. No início deste ano, o governo anunciou, como parte da expansão do projeto, que distribuirá 2 milhões de tablets, igualmente com acesso à internet, para estudantes universitários. Desnecessário dizer que existe uma forte contradição entre essa política macro de ampliar radicalmente o acesso ao conhecimento e à informação e o denuncismo de censura estampado na manchete do jornal.

Talvez caminhar um pouco pelas periferias, conhecer um pouco do interior, sair da área de um quilômetro quadrado ao redor do hotel da área mais nobre de Caracas, que abrigou os generais golpistas de 2002 e 2003 e que concentra os protestos dos últimos dias, ajudasse a entender o que se passa na Venezuela.

Correio da Cidadania: Como você acha que se dará o desfecho de mais esta crise venezuelana e quais as perspectivas do chavismo, um processo político que já supera 15 anos no governo?

Pedro Barros: No último sábado, observei de perto as manifestações da oposição e do governo e em ambas havia clima de absoluta normalidade e proteção policial para evitar possíveis confrontos. Destaca-se que a da oposição foi realizada em El Marqués, no município de Sucre, governado pela oposição, no estado de Miranda, governado pela oposição. Os maiores confrontos até agora foram na Praça de Altamira, município de Chacao, governado pela oposição, estado de Miranda, governado por Capriles, que tem sistematicamente criticado a prática de guarimbas (barricadas para bloqueio de ruas e avenidas, que em Caracas acontecem quase que exclusivamente em bairros nobres). Pelo que é reportado, os protestos no estado de Táchira, na fronteira com a Colômbia, que foram mais fortes, também têm perdido intensidade.

Nem sempre é fácil diagnosticar ou traçar cenários sobre o que se passa na Venezuela. Correndo o risco de errar redondamente, diria que os protestos vão esfriar nos próximos dias, serão rearticulados e voltarão com força no próximo período, podendo coincidir com a Copa do Mundo de futebol.

O chavismo é o movimento que marcou a primeira tentativa de ruptura com o Consenso de Washington na América Latina. Depois vieram mais de uma dezena de governos, com diferentes tonalidades, mas com um objetivo parecido, de diminuição das desigualdades e não alinhamento automático aos Estados Unidos.

A resposta fácil sobre as perspectivas seria indicar que o desafio é garantir o aprofundamento das conquistas sociais em um cenário econômico e, talvez, político adverso. Sistematicamente, tentaram apresentar a morte de Chávez como o fim do chavismo, mas, com o passar dos meses, me parece claro que estamos apenas no começo de uma longa história.

Provavelmente, mais do que qualquer outro, o posicionamento sobre o que se passa na Venezuela indica as posições que cada um tem sobre o futuro da América Latina. As notas do Mercosul, da Unasul e da Celac, ainda que diferentes, indicam uma região mais unida, preocupada com a estabilidade e progresso mútuos. Essa tem sido a posição da presidente Dilma Rousseff, que foi afirmativa nos momentos mais decisivos da história recente da Venezuela, seja para a entrada do país no Mercosul, seja para o reconhecimento internacional das eleições de abril de 2013.

Agora há pouco, em Bruxelas, ela foi novamente assertiva ao declarar que o diálogo, o consenso e a construção democrática são mais adequados do que qualquer tipo de ruptura institucional e que o caos, que é desejado por grupos minoritários na Venezuela, seria a desconstrução social, econômica e política. Por várias vezes, agora e antes, a presidente lembrou que é importante enxergar os avanços sociais da Venezuela.

Em perspectiva histórica e para além da área social, provavelmente o governo Chávez será reconhecido como uma guinada para o sul e em prol da integração regional.
 
(*) Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania.


Fonte: Carta Maior