Ao pedir desculpas hoje ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a procuradora Jerusa Viecili, da
força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, confirma a autenticidade de
mensagem revelada em reportagem do UOL em parceria com o site The Intercept
Brasil. Nos diálogos obtidos pelo site Intercept, analisados e publicados pelo
UOL, os integrantes da Lava Jato ironizaram a morte da esposa de Lula, Marisa
Letícia, e os pedidos do ex-presidente para ir aos enterros de familiares que
morreram.
"Errei. E
minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa
diretamente afetada, o ex-presidente Lula", diz a postagem da procuradora.
Até então, ao
comentar as publicações decorrentes dos vazamentos de mensagens, os
procuradores citados afirmavam que não reconheciam a autenticidades das
mensagens e levantavam suspeitas quanto a eventuais adulteração nos conteúdos
publicados --não há evidências de que os textos tenham sido manipulados. Pouco
mais de uma hora depois de se desculpar, Jerusa, no entanto, ponderou, em outro
tuíte, que o reconhecimento da autenticidade de trecho publicado pelo UOL
não significa que ela endosse todas as outras publicações em que é
mencionada. "Lembrar de uma mensagem não autentica todo o conjunto. A
existência de mensagens verdadeiras não afasta o fato de que as mensagens são
fruto de crime e têm sido descontextualizadas ou deturpadas para fazer falsas
acusações", disse.
Na sequência,
ela também disse: "Os procuradores da Lava Jato nunca negaram que há mensagens
verdadeiras, exatamente porque foram efetivamente hackeados. Contudo, não é
possível saber exatamente o quanto está correto, porque é impossível recordar
de detalhes de 1 milhão de mensagens em 5 anos intensos". Procurada para
comentar a matéria publicada hoje de manhã pelo UOL, a força-tarefa da Lava
Jato em Curitiba disse que não poderia se manifestar sem ter acesso integral às
conversas.
Em junho deste
ano, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, pediu desculpas ao
MBL (Movimento Brasil Livre) através um áudio, depois de a Folha de S.Paulo ter
revelado que, em conversa realizada no ano de 2016, Moro se referiu aos seus
integrantes como "tontos". "Consta ali um termo que não sei se
usei mesmo, acredito que não, pode ter sido adulterado. Mas queria pedir
desculpas se eu eventualmente utilizei, porque sempre respeitei o MBL e sempre
agradeci o apoio que esse movimento deu", disse Moro que, em 2016, era
juiz federal e atuava na Lava Jato.
Apesar do
perfil da procuradora Jerusa no Twitter não ser verificado pela plataforma,
publicações de sua conta já foram compartilhadas por Deltan Dallagnol,
coordenador da Força-Tarefa no Paraná. A reportagem publicada hoje, em parceria
com o The Intercept Brasil, mostra comentários jocosos dos membros da Lava Jato
sobre a morte da ex-primeira-dama e sobre os pedidos do ex-presidente para
deixar a cadeia e ir aos enterros do irmão Vavá e do neto Arthur, de 7 anos.
Em uma das
conversas, de 3 de de fevereiro de 2017, Jerusa escreveu "Querem que eu
fique pro enterro?" e colocou um emoji sorrindo logo depois de outro
procurador, Julio Noronha, publicar notícia sobre a morte de Marisa.
Em outra
conversa, de 1º de março deste ano, a procuradora compartilha com os colegas
matéria sobre a morte de Arthur e escreve: "preparem para nova novela ida
ao velório".
Lula manifesta
"repulsa" Lula afirmou, na tarde de hoje, que recebeu com
"extrema indignação" e "repulsa" as mensagens jocosas
divulgas nesta manhã. Por meio de nota enviada ao UOL o ex-presidente disse que
os procuradores "referem-se de forma debochada e até desumana" às
mortes de seus entes queridos. Ele afirma ter recebido as revelações da
reportagem com "extrema indignação". "Foi com extrema
indignação, com repulsa mesmo, que tomei conhecimento dos diálogos em que
procuradores da Lava Jato referem-se de forma debochada e até desumana às
perdas de entes queridos que sofri nos anos recentes: minha esposa Marisa, meu
irmão Vavá e meu netinho Arthur".
O ex-presidente
afirmou ainda que esta terça-feira (27) foi "um dos momentos mais
tristes" na prisão. Lula disse não imaginar até então que "o ódio que
nutriam" contra ele "chegasse a esse ponto". "Mas não
imaginava que o ódio que nutriam contra mim, contra o meu partido e meus
companheiros, chegasse a esse ponto: tratar seres humanos com tanto desprezo,
como se não tivessem direito, no mínimo, ao respeito na hora da morte. Será que
eles se consideram tão superiores que podem se colocar acima da humanidade,
como se colocam acima da lei?", afirmou.
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