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domingo, 27 de novembro de 2011

A Europa governada por mercenários dos bancos

O primeiro-ministro grego Georgios Papandreou e o primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconi foram ambos forçados a sair e substituídos por representantes da alta finança. Mario Monti, que substitui Berlusconi, era antes presidente europeu da Comissão Trilateral e membro do Grupo Bilderberg. Encontra-se igualmente no quadro de consultores internacionais do Goldman Sachs.

Por Mike Whitney, em O Diário.info

Lucas Papademos, que substitui Papandreou, era antes o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) e serviu como economista sênior no Banco da Reserva Federal de Boston em 1980. É igualmente membro da Comissão Trilateral desde 1998.

Vale também a pena notar que o novo presidente do BCE, Mario Draghi, é curador da Brookings Institution , associada do Instituto de Política na Escola de Governação “John F. Kennedy” em Harvard, antigo membro do quadro de diretores do Bank for International Settlements e antigo diretor do Goldman Sachs.

A banca global é um negócio incestuoso onde o pedigree é tudo. A história pessoal de cada um indica o seu empenho pelo sistema e se é de confiança para aplicar as políticas que beneficiam diretamente o capital financeiro. Este novo grupo de assim chamados “tecnocratas” vai usar o poder para impor severas medidas de arrocho com o objetivo de esmagar os sindicatos, desmantelar o sistema de pensões e privatizar os bens públicos.

As suas políticas de aperto de cinto vão intensificar a recessão, reduzir os rendimentos do Estado, aumentar o desemprego e fomentar a intranquilidade social. À medida que mais políticos da zona euro forem substituídos por mercenários dos bancos, a oposição à maior integração na zona euro tomará a forma de grupos nacionalistas exigindo a retirada da união monetária de 17 membros. Os protestos pacíficos tornar-se-ão batalhas campais com a polícia e forças de segurança do Estado, à medida que os trabalhadores lutam para se verem ouvidos. Estes confrontos irão aumentar até se tornarem triviais enquanto a economia se deteriora e o desespero cresce. Eis um excerto de um artigo do sítio de rede do Mundo Socialista com o título “A Grécia e a Ditadura da Finança”:

“Esta situação é reminiscente da Alemanha dos anos 30. O chanceler alemão de então, o político centrista Heinrich Brüning, procurou impor sobre a população o impacto da crise financeira e econômica internacional com medidas de austeridade drásticas. Governou através de medidas de emergência, com base nos poderes de presidente e com o apoio parlamentar da social-democracia e suprimiu a oposição às suas políticas de austeridade com operações policiais brutais. Brüning abriu caminho à ascensão dos nazistas e à sua subsequente tomada do poder.

Os acontecimentos em curso na Grécia apontam na mesma direção. Isso resulta inexoravelmente da lógica do “governo de unidade nacional.” Ao declarar o seu programa de austeridade uma expressão dos supremos interesses nacionais, o governo está a acusar qualquer resistência como traição que deve ser forçosamente suprimida.” (“A Grécia e a Ditadura da Finança”, sítio de rede do Mundo Socialista ).

Papademos e Monti já garantiram que executarão fielmente os termos dos acordos com a Troika (União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu), embora as medidas de austeridade tenham falhado onde quer que tenham sido aplicadas. O déficit da Grécia aumentou durante os dois anos em que Papandreou aceitou seguir as políticas de camisa-de-força da UE, pondo o país na via rápida para a falência. O desemprego disparou em agosto para uns 18,4 por cento, com uma subida de 2 por cento numa questão de meses. Mesmo assim, os líderes da UE mantêm-se teimosamente agarrados à política de estrangulamento econômico. Por outras palavras: “Os castigos continuam até o moral melhorar”.

Na Itália, é mais do mesmo: políticas de contração que apenas aprofundam a recessão e aumentam a miséria. O regime de austeridade não tem qualquer componente favorável ao crescimento, não há vestígio de estímulo keynesiano que se veja. Espera-se que a Itália mirre até ficar saudável, uma ideia que insulta a teoria econômica básica e assusta a inteligência. Veja-se este excerto do New York Times que descreve o programa de redução de custos italiano:

“A legislação inclui a venda de $21 mil milhões de bens do Estado e o aumento da idade da reforma de 65 para 67 até 2026. Estabelece também as condições para a liberalização de leis restritas sobre profissões e trabalho, gradual redução da propriedade estatal de serviços locais e redução de taxas para empresas que empreguem jovens trabalhadores.” (New York Times).

A quase-depressão na periferia dos EUA levou a um abrandamento nos países centrais e à expectativa de nova recessão. Na semana passada, o FMI publicou um relatório para a conferência do G-20 em Cannes dizendo:

“A recuperação continua em andamento lento nas maiores economias avançadas, com elevado risco de queda em recessão. A paralisia política e a incoerência contribuíram para aumentar a incerteza e para a perda de confiança e elevou a tensão do mercado financeiro, tudo isto o mais contrário ao reequilíbrio da procura e às perspectivas de crescimento global.

Assim, a compreensão dos grandes desequilíbrios no interior dos países e entre eles assumiu redobrada importância. Os políticos precisam de atuar com maior sentido de urgência no alcançar um acordo sobre políticas que reduzam os desequilíbrios e estabeleçam as bases para a restauração da saúde da economia global.”

Enquanto o FMI está certo ao apontar para os enormes desequilíbrios de contas que estão na base da presente crise (e não as “despesas esbanjadoras” ou a “preguiça dos gregos”, como muitos creem), os seus funcionários, enviados para Roma e Atenas para monitorarem a execução, apenas estão a contribuir para o agitado ressentimento contra o FMI, o BCE e a Alemanha. Do mesmo modo, em termos práticos, cortar severamente a despesa pública no meio de uma depressão é apenas uma receita para o desastre, conforme o primeiro-ministro britânico David Cameron recentemente descobriu. Do Econbrowser:

“O PIB do Reino Unido cresceu 0.5%… no 3º trimestre, mas a posição em que se encontra a economia é agora oficialmente pior que após a Grande Depressão. Junte-se a isto o enfraquecimento do PMI compósito (Purchase Management Index ou Índice de Gestores de Compras, índice macroeconômico da atividade produtiva do país – N.T.) na revisão de outubro, e em particular o relatório industrial também publicado esta semana e os crescentes riscos de uma recessão mais séria na zona euro, e o cenário parece montado para um possível panorama muito mais sombrio no fim deste ano.” (“Trouxe a Austeridade um Boom ao RU?”, Econbrowser ).

E agora o que se passa em Espanha, de acordo com o blog do Financial Times:
“A recuperação econômica na Espanha estancou completamente. De acordo com as primeiras estimativas pelo INE, o PIB espanhol real ficou constante no terceiro trimestre (0,8% em relação ao ano anterior), depois de crescer uns modestos 0,2% no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior. O resultado foi menos mau do que o sugerido por indicadores como os PMI, mas choca em toda a linha com a estimativa inicial do Banco de Espanha. Nenhum corte na despesa está à vista nesta fase, mas suspeitamos que a contribuição positiva das exportações líquidas foi absorvida pela posterior contração da procura interna.

Como expectativa, receamos que a economia espanhola possa cair em recessão em breve, talvez tão breve como o corrente quarto trimestre. O nosso cenário de referência considera crescimento econômico nulo em 2012. As perspectivas de pioria da economia põe riscos significativos aos esforços de consolidação fiscal espanhola (“A Dor em Espanha”, FT.Alphaville).

Num relatório publicado há poucos dias, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) confirmou que todas as maiores economias mundiais estão a caminho de um abrandamento. De acordo com a Reuters: “O CLI (Composite Leading Indicator) principal indicador compósito da organização com base em Paris para os seus membros, caiu em setembro pelo sétimo mês consecutivo para 100,4… atingindo o valor mais baixo desde dezembro de 2009.”

Assim, a austeridade foi um fracasso. Políticas contracionistas levam a restrições e à recessão, não à expansão fiscal e à recuperação, como muitos conservadores pretendem. Em todos os casos, a austeridade só ajudou à pressão deflacionária, aumentou a confusão nos mercados de crédito e encolheu o PIB. Além disso, os políticos da UE recusam ajustar as suas políticas e assim jogam com os números. De fato, o BCE utiliza agora o seu programa de compra de obrigações como forma de chantagem para garantir que as suas ordens são rigorosamente seguidas. Caso de exemplo: o BCE interveio no mercado de obrigações sexta-feira (provocando a queda da taxa das obrigações italianas a 10 anos), depois de suspender a compra de obrigações durante dois dias inteiros durante os quais a taxa subiu acima de 7 por cento (níveis “insustentáveis”). A ausência do BCE do mercado criou uma atmosfera de crise que acabou por forçar Berlusconi a demitir-se e abriu caminho para o novo plano de austeridade no parlamento italiano.

Independentemente do que se possa sentir por Berlusconi, esta intromissão política é inaceitável. Mostra apenas que o BCE está preparado para usar o seu poder na imposição da sua própria visão política da Europa sobre os estados-membros e a forçar os políticos a obedecerem às suas ordens. O incidente faz lembrar uma citação de Meyer Rothschild:

“Deem-me o direito de emitir e controlar o dinheiro de um país e não me interessa quem o governa.” Os dirigentes políticos em toda a Europa começam agora a perceber o ominoso sentido das palavras de Rothschild. Cedendo o controle das suas moedas (e a faculdade de atuar como emprestador de último recurso), desistiram inadvertidamente da soberania.

Mario Draghi, um homem jamais eleito para cargos públicos, é agora presumivelmente o homem mais poderoso da Europa. Por enquanto, parece menos interessado na “estabilidade dos preços” ou na “transmissão da política monetária” do que na subversão do processo democrático e na condução de uma aberta luta de classes.

Então, para onde caminha a Europa?

Os professores Markus Brückner e Hans Peter Grüner analisaram a relação entre as crises econômicas e o extremismo político e apresentaram as suas conclusões num artigo intitulado “Perspectivas de crescimento na OCDE e extremismo político.” Eis um excerto:

“Um maior crescimento do PIB per capita está significativamente ligado de forma negativa com o apoio a posições políticas extremas. Enquanto as estimativas variam segundo as especificações, encontra-se aproximadamente que a diminuição de um ponto percentual no crescimento se traduz num voto um ponto percentual mais alto em partidos de direita ou nacionalistas…

Os nossos resultados tornam, portanto, claro que não se deve esperar que os partidos de direita tenham maioria a não ser nos países onde o crescimento cai ao nível dos anos 20. Contudo, mesmo com uma queda menos significativa nas taxas de crescimento econômico, um maior apoio aos partidos extremos é provável que altere os resultados políticos, por exemplo através do impacto nas plataformas políticas dos partidos no poder…

Os nossos resultados apoiam o ponto de vista de Benjamin Friedman de que o crescimento econômico determina a direção segundo a qual a democracia se desenvolve. Isto implica também que a resolução do problema de crescimento da Europa pode ter consequências importantes fora da esfera puramente econômica.” (“Perspectivas de crescimento na OCDE e extremismo político” Vox EU).

Caso os professores Brückner e Grüner estejam certos, podemos então esperar assistir ao aparecimento de uma firme subida dos grupos de direita nos países do sul. A sua popularidade dependerá em grande parte na sua capacidade para reavivarem o nacionalismo e ligarem a corrente depressão às políticas da troika. Se conseguirem, as suas fileiras aumentarão e as suas exigências (retirada imediata da união monetária de 17 membros e restauração da soberania nacional) conduzirão a fraturas ou talvez à ruptura da zona euro
Mike Whitney vive no estado de Washington. Colaborou em “Sem Esperança: Barack Obama e a Politica da Ilusão”, a sair em breve pela AK Press.

Fonte: O Diário.info
Tradução: Jorge Vasconcelos
Título da redação do Vermelho

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