Em um tom agressivo, em
que atacou os governos de França, Venezuela e Cuba, o socialismo e o
ambientalismo, o presidente Jair Bolsonaro abriu hoje a 74ª Assembleia Geral da
ONU (Organização das Nações Unidas) com um discurso semelhante ao que permeou
sua candidatura à Presidência, no ano passado. Bolsonaro não poupou nem mesmo a
ONU. Em um discurso ideológico, o presidente apontou ações que classificou como
ameaças à soberania do Brasil. Ele atacou "sistemas ideológicos de
pensamento", que estariam invadindo escolas, universidades, meios de
comunicação e a "família", sob a acusação de tentar subverter o sexo
biológico das crianças.
Bolsonaro
convidou os presentes para visitarem o Brasil e verem com os próprios olhos que
o país é bem diferente do que tem sido relatado pela imprensa. O presidente
justificou as atuais queimadas na Amazônia como um incidente favorecido pelo
clima seco e também por práticas da cultura local. E acusou a mídia de difundir
a "falácia" de que a floresta é um patrimônio da humanidade e o
pulmão do mundo. A fala também foi uma resposta ao presidente francês, Emmanuel
Macron, que no mês passado falou sobre a opção de internacionalizar a gestão
das florestas.
Sem citação
nominal, Bolsonaro criticou Macron e disse ser um equívoco dizer que a floresta
é o pulmão do mundo. Segundo ele, a Amazônia permanece "praticamente
intocada", o bioma não está sendo devastado e atacou nações que alega
ameaçarem a soberania do Brasil. Nesse momento, o presidente enfatizou seus
argumentos recentes de que a população indígena clama por desenvolvimento, e
mencionou a presença da indígena bolsonarista Ysani Kalapalo, que estava sentada
no plenário ao lado da primeira-dama, Michele Bolsonaro. "Eles [os índios]
querem os mesmos direitos que todos nós", disse. Segundo ele, 14% do
território brasileiro é demarcado como terra indígena. "Não vai aumentar
para 20%, como alguns chefes de Estado gostariam." O presidente criticou
as ameaças de sanções e acusou outros países de tentar usar os índios
brasileiros como reserva de mercado. Segundo ele, há "apenas" 15 mil
índios da tribo Ianomami que vivem numa área do tamanho de Portugal ou da
Hungria.
O presidente
criticou ainda o líder indígena Raoni, dizendo que pessoas como ele são usadas
como "peças de manobra" por governos estrangeiros para avançar seus
interesses na Amazônia.
Ataques a
Venezuela e Cuba Logo no início da fala, fez questão de apresentar o programa
Mais Médicos, que trouxe cubanos para trabalhar no país nos governos de Lula e
Dilma no atendimento à saúde, como um "caso explícito" de atentado
aos direitos humanos. "Não podiam trazer parceiros ou filhos, e tinham seus
salários confiscados", disse. Como uma crítica, disse que o programa foi
respaldado pela ONU. Citou, ainda, a influência dos governos petistas para
alimentar ditaduras em outros países, como o governo de Hugo Chavez, na
Venezuela.
O presidente
citou a saída de Cuba do programa Mais Médicos, ao qual se referiu como um
"verdadeiro trabalho escravo respaldado por entidades de direitos humanos
do Brasil e da ONU". "Deste modo, nosso país deixou de contribuir com
a ditadura cubana, não mais enviando para Havana 300 milhões de dólares todos
os anos", falou. Ele lembrou que boa parte dos médicos deixou o Brasil
antes mesmo que ele assumisse o governo e que os que permaneceram no país vão
se submeter à qualificação para exercer a profissão.
O presidente
também falou sobre a situação na Venezuela, dizendo que o país experimenta hoje
"a crueldade do socialismo" e que o Brasil sente os impactos disso
por causa do alto número de migrantes. Disse que o governo tem atuado em
parceria com os EUA e com outros países para restabelecer a democracia no país
vizinho, mas que a ameaça ainda existe. No discurso, Bolsonaro disse que o
Brasil trabalha para reconquistar a confiança do mundo e diminuir problemas
como desemprego e violência. Ele diz que o país estava "à beira do
socialismo" e está sendo reconstruído em seu governo "a partir dos
anseios e dos ideais de seu povo".
"Meu país
esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de
corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade
e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam
nossas tradições", falou. Bolsonaro buscou apresentar seu governo como uma
alternativa de abertura econômica para o país, com combate à burocracia, à
corrupção e a acordos comerciais, sem deixar de citar os escândalos do PT e
tecer elogios ao atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
Discorreu sobre as viagens que seu governo tem feito para retomar relações
comerciais, como a viagem a Davos, no início do ano, a Israel e Argentina.
Prometeu que, ainda este ano, deve investir em parceiros na Ásia --Oriente
Médio, Japão e China.
Fonte: UOL
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